4 motivos para não fazer um intensivo de inglês básico no exterior
Muitas pessoas acreditam que o melhor caminho para quem quer aprender inglês rápido é fazer intensivo em um país de língua inglesa. Isso, claro, tem várias vantagens. Entretanto, se você deu início aos estudos recentemente, este pode não ser o melhor momento.
Essa foi a conclusão que eu cheguei a partir de relatos de alunos e amigos, e também da minha experiência lecionando e avaliando aulas numa escola na Escócia, onde obtive meu CELTA, uma certificação de Cambridge para professores de inglês (cujo curso tem como um dos componentes assistir aulas de outros professores e lecionar turmas).
Veja 4 motivos porque eu considero que o nível básico não é o melhor para intensivos:
1. As Datas de início das aulas variaM
Via de regra, as escolas estrangeiras não determinam, principalmente em turmas de intensivo de verão e inverno, uma data para que todos os alunos cheguem e terminem o curso. Vamos pensar no por quê? Essas escolas recebem pessoas de vários países, o que torna impossível encontrar a melhor data em termos de variações de preço nos vôos e das férias e do calendário de cada aluno em potencial. Impor uma data de chegada e saída significaria perder vários clientes. Assim, não seria interessante programar dia específico para o curso começar e terminar para todos. Dessa forma, você corre o risco de chegar e entrar numa turma com um livro já começado, perder uma matéria que você nunca estudou e já tendo perdido metade da explicação de outra nova. E claro: dependendo da sua data de volta ao Brasil, também é possível que você não participe de aulas importantes. Como o nível básico é o momento de consolidação de conhecimentos, o aluno nessa fase corre o risco de ficar perdido, ou não ter acesso a conteúdos importantes.
2. Turmas linguisticamente heterogêneas
Assim como no Brasil, as turmas desses cursos são heterogêneas, mas com algumas particularidades que tornam o desafio ainda maior para quem está começando. A primeira é que alunos de vários países estudam juntos. Isso, do ponto de vista cultural, pode ser muito rico, e inclusive existem várias estratégias de ensino para uma aula assim funcionar, mas turmas onde todos os alunos falam a primeira língua sempre serão mais produtivas. Eu mesma adorava preparar aulas sobre as diferenças culturais, porque via nisso uma oportunidade de os alunos interagirem mais. Entretanto, isso também quer dizer que cada um tem uma primeira língua diferente, uma maneira de raciocinar e ver o mundo diferente e, claro, dificuldades diferentes. Com isso, muitas vezes, especialmente quando o professor é monolíngue (fala somente o inglês), dificuldades específicas de falantes de certas línguas não são trabalhadas.
Outro ponto importante: o aluno do básico ainda não tem os padrões fundamentais da língua concretizados. Com isso, a pessoa nesse momento ainda está em fase de ter contato com a língua nova. Portanto, quem está começando é muito mais sujeito a copiar formas erradas de colegas e automatizá-las. Há algum tempo atrás eu tive um aluno do básico que fez um curso de um mês no exterior e voltou realmente falando inglês com bem mais desenvoltura e confiança. Contudo, porque todos os amigos dele eram colegas de sala e, com isso, estavam também começando, ele passou a cometer vários erros copiados de colegas estrangeiros e usar expressões que eles mesmos traduziram das suas línguas maternas. Diga-se de passagem, muito do que ele dizia funcionava entre os colegas por conta do contexto em que eles "criaram" esses termos, mas não fazia sentido para outros falantes de inglês. Isso também pode acontecer com alunos de outros níveis, claro, mas numa escala menor, uma vez que, já tendo tido um pouco mais de contato com a língua, o aluno chega no ambiente internacional com noções mais padronizadas, já sabendo identificar erros com mais segurança. Mais que isso: já chega melhor equipado para tentar também interagir com pessoas também fora do círculo de amizades da sala de aulas.
3. O nível de quem normalmente faz esses cursos não é básico
A maioria dos alunos que tomam a iniciativa de fazer um curso no exterior estão no nível B (intermediário). Assim, porque as datas de início variam, porque há alunos de vários países e porque muitas vezes não é possível trabalhar as dificuldades específicas com base no ponto de partida (língua materna) de cada um, o professor sempre vai pela média da turma. Com isso, quem tem um nível mais iniciante corre o risco de ser colocado numa turma mais avançada - já vi e ouvi casos assim - se não houver um número suficiente de colegas no mesmo nível. Isso quer dizer estudar junto com alunos quem possam ter um pouco nível mais elevado, o que para um iniciante pode ser extremamente difícil. Da mesma forma que aqui no Brasil não é interessante para a escola ter uma turma de iniciantes com 2 alunos pagando o preço de turmas, lá também não é. Assim, o mais comum é nivelar para cima se não houver uma turma do seu nível. Isso pode vir a ser extremamente frustrante, porque muitas vezes não existe a possibilidade de recorrer ao português nem para reclamar.
4. Preço
O argumento final, pensando no tipo de serviço que é oferecido na maioria desses cursos intensivos e no quão mais alunos que já têm o básico podem se beneficiar, inclusive no que diz respeito a interagir com outras pessoas, é o do bolso. Em 2010, quando iniciei meu intercâmbio nos Estados Unidos, a conversão Real-Dólar era R$1,76 e não existia IOF (saudades-tempo-bom-que-não-volta-mais!). Nessa época, muita gente decidiu fazer cursos de inglês, e eu acho que era um momento financeiramente ótimo para um intensivo. O que aconteceu conosco foi que gradualmente nosso poder de compra caiu mais e mais, e infelizmente os custos de operação de uma escola em países de língua inglesa, de moradia, de vôos, etc., não conseguem acompanhar nossa dificuldade financeira para nos receber como alunos, o que muitos profissionais qualificados daqui podem fazer.
Assim, eu acredito que é possível investir em uma carga horária intensificada de aulas individuais por um tempo no Brasil, e fazer a viagem com mais independência e fundamentos da língua numa data futura. Hoje em dia - e mais uma vez, é minha opinião - com a alta do dólar, da libra, e do euro em relação ao real, o mais interessante pensando em custo-benefício seja realmente procurar atingir um nível intermediário no Brasil (seja numa escola, ou com um professor particular) antes de programar o intensivão, e de forma a aproveitar mais da experiência num futuro talvez nem tão distante assim.
Boa sorte com tudo!
Best,
Lachesis