7 motivos porque não é possível determinar em quanto tempo você vai falar inglês
A pergunta que mais ouço no meu dia-a-dia de professora é:
"Teacher, em quanto tempo eu vou falar inglês fluente?"
A resposta mais honesta que eu posso oferecer é:
"Ninguém sabe exatamente."
Seguem 7 motivos para isso:
1. Aprender requer dedicação de ambas as partes
O primeiro motivo é o mais óbvio; o trabalho de aprendizado requer esforço tanto do aluno quanto do professor. Ora, tudo o que exige um trabalho de mais de um indivíduo não pode se tornar uma promessa para uma das partes. Quando um curso ou um professor promete que você vai conseguir aprender em tempo recorde com o método tal, a pergunta que fica é:
"mas como você sabe se o aluno vai se dedicar?"
Se o aluno faz as aulas, mas não estuda sozinho, se paga o curso e não comparece às aulas, se só lembra que estuda inglês quando vê o professor, é bem provável que a promessa de inglês em tempo recorde não seja cumprida.
2. Habilidades naturais
O segundo motivo é que algumas pessoas têm mais facilidade com línguas, assim como algumas têm com matemática, com biologia, com física, etc; eu mesma, cheguei ao nível B1+ de francês estudando sozinha, mas precisei de aula particular para entender equações de segundo grau. Esse tipo de coisa muitas vezes não é óbvia num primeiro contato e certamente não é algo que um teste de nível (que normalmente só avalia gramática com questões de múltipla escolha) ou a cara do aluno possa demonstrar. Muitas vezes, isso é algo que o professor identifica com o tempo, o convívio com a pessoa. Existe sempre um momento com línguas estrangeiras que parece que o cérebro dá um clique, mas isso não é uniforme para todos os alunos. Assim, não existe um método que vai funcionar no mesmo prazo para todos. Não existe uma promessa que funcione igualzinho para todo mundo.
3. Dificuldades naturais
Analogamente, algumas pessoas também têm mais dificuldade com idiomas, sobretudo por conta da timidez. Eu sinceramente acredito que todas as pessoas nascem com a habilidade para aprender idiomas, mas algumas precisam de mais atenção, de mais tentativas com métodos diferentes e, muitas vezes, de um up na autoestima mesmo para criar coragem de tentar. Não existe nada de errado nisso e a boa relação entre aluno e professor é aquela que permite identificar essas dificuldades e trabalhá-las no ritmo de quem está aprendendo. A maioria dos métodos ensina como tratar dificuldades gerais, possivelmente mais comuns à maioria, mas não trata das especificidades de cada um simplesmente porque cada pessoa é única.
4. Personalidade
Sabe aquela história de uma pessoa ir com a cara da outra? Aqui isso vale 100%. A relação entre o aluno e o professor tem muito a ver com a personalidade de ambos. Antes de você ser aluno ou aluna do curso tal, você é aluno do ou da Profs My Darling. Quem nunca teve um professor que não gostou de jeito nenhum, mas que outro colega amou? Quem nunca detestou um professor que todo mundo (sem exceção) amava, ou amou um que todo mundo detestava? Isso tem a ver com a sintonia entre as pessoas, com a empatia entre os lados: com como a gente percebe o jeito de agir do outro. A isso damos o nome de rapport e é algo que leva tempo também para ser identificado e desenvolvido; muitas vezes rápido; outras, mais devagar. E isso afeta - e muito - a aprendizagem.
5. Abordagens de ensino
Porque as pessoas são diferentes umas das outras, algumas abordagens funcionam melhor. Entretanto, muitas vezes, especialmente em cursos, determina-se um modo específico de conduzir as aulas, o que pode não funcionar com todo mundo. Existem cursos, inclusive, onde parte do trabalho do coordenador é conferir se os professores estão seguindo o manual à risca, com direito a pranchetinha, caneta vermelha e sessão de feedcréu. Isso faz com que certas dúvidas de alunos sejam ignoradas em aula, com que o professor não se aprofunde tanto no que um aluno específico precisa. Ensinar línguas é ensinar a interagir com outros seres humanos, e o melhor jeito para isso é entender que há uma questão de erro e acerto mesmo; o que vale mesmo é tentar. Eu acredito que o bom professor seja aquele que tem tanto a liberdade de testar, quanto a oportunidade e o interesse de mudar, e que a melhor abordagem seja aquela que é flexível, que aceita um pouco de cada metodologia. E isso não é uma exclusiva responsabilidade de quem conduz a aula; muitas vezes, contamos com a paciência do aluno, de algumas tentativas não darem certo mesmo. Em outras, o professor fica preso ao que o método mandou fazer.
6. Os critérios não são objetivos
Algumas pessoas se revoltam com promessas milagrosas de cursos. Bom, na verdade, porque os cursos de inglês são cursos livres, não existe uma demanda do MEC para como eles devem funcionar e nivelar alunos; não existe ENAD para comprovar o inglês avançado é avançado mesmo. Assim, porque não há um critério unânime do que é "ser fluente" e nem uma cobrança quanto a isso, as escolas têm liberdade de criar quesitos próprios e, pasme, isso não é propaganda enganosa. Afinal, curso livre não é regulamentado. A gente nota cada vez mais que as nomenclaturas mudam o tempo todo, de forma que o que se considera "fluente" seja menos e menos avançado em comparação com padrões internacionais, porque o brasileiro quer aprender inglês rápido, gastando o mínimo (de tempo e dinheiro) possível. Eu notei, tanto na minha época de professora do programa Inglês Sem Fronteiras da UFMG, quanto ao preparar alunos para intercâmbios, que o nível que a maioria dos alunos egressos de cursos brasileiros normalmente atinge é algo entre o B1 e o B2, o que internacionalmente equivale a um intermediário-dá-pro-gasto, mas não o esperado de um acadêmico, ou de um alto executivo.
Um bom diagnóstico de nível são testes como FCE, TOEFL e IELTS. Contudo, testes padronizados muitas vezes não refletem a realidade da interação com as pessoas. No dia-a-dia, mesmo cometendo erros podemos muitas vezes nos comunicar bem e, se formos simpáticos, recebemos ajuda com o que não sabemos. Na maioria dos casos, temos uma segunda, uma terceira, uma quarta chance de tentar nos comunicar. Mais que isso: quando erramos, muitas vezes o outro entende e nos ensina; na realidade, exigir perfeição muitas vezes acaba equiparando quem comete pequenos erros com quem tem mais dificuldade. Testes não avaliam isso. E claro, não podemos esquecer: há pessoas ficam nervosas e não estudam antes de ser testadas, o que também prejudica a pontuação. Ou seja: uma nota alta ou baixa num teste não necessariamente reflete a realidade.
7. A carga horária influencia e muito
Se você opta por fazer 1 hora de aula por semana, é óbvio que você vai progredir mais devagar quem alguém que faz mais. Assim, desconfie de verdade de quem está prometendo inglês fluente em seis meses com carga horária semanal de 2 horas. Essa não me parece uma meta que pode ser cumprida pela maioria dos alunos, mesmo com muito empenho e dedicação. Alguns alunos acreditam que, para aprender inglês, o caminho mais rápido e certo é fazer um intercâmbio intensivo, e isso é mesmo verdade. Se você convive com o idioma mais horas por dia, se faz mais horas de aula, se direciona mais do seu tempo, é óbvio que você vai aprender mais rápido. Contudo, não acredite em milagres: se você for para outro país e não procurar se expor, conversar com as pessoas em inglês, viver a cultura, você também corre o risco de não evoluir tanto quanto gostaria.
Assim, não acredite em promessas milagrosas. Aprender depende de diversos fatores.
Best,
Lachesis