Os cinco comportamentos dos meus professores que eu mais odiei (e o que eu aprendi com isso)
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Um dos meus maiores eye-openers como professora foi trocar de lugar com meus alunos e, depois de anos sendo teacher, voltar a ser student. Ao longo dos últimos anos estudei francês, alemão e italiano. Eu tive três professores de francês, três professores de alemão e cinco (sim, cinco) professores de italiano diferentes. Por que tantos? É Como dizem por aí, professor é o pior perfil de aluno; tive muita dificuldade em encontrar o profissional ideal para mim. Com o francês e o italiano, acabei decidindo estudar sozinha, e com o alemão encontrei uma pessoa ótima, mas acabei tendo que parar porque me mudei para o exterior. Atualmente, estou no nível A1 com o alemão, B1+ com o francês e C1 com o italiano. Essa jornada me ensinou muito sobre mim mesma, e principalmente sobre pontos em que posso melhorar como profissional (e como aluna!)
Aqui está o que eu aprendi a não fazer em minhas aulas:
Ministrar aulas demasiadamente expositivas
Uma das minhas professoras de nunca me deixou terminar uma frase. Ela me fazia uma pergunta e no minuto em que eu começava a falar, ela dizia "aspeeeettaaa" (esperaaaaaa) e lá ia ela falar por cinco minutos sobre meu erro e sobre tópicos relacionados. Isso quer dizer que na aula de conversação dela ela falava cinco vezes mais que eu. 60 minutos de aula: 10 minutos meus, 50 dela. E o pior: eu nunca conseguia me lembrar exatamente do que era que eu estava falando antes. Nem onde eu tinha parado quando ela me interrompeu. Nem o que ela tinha ensinado.
Tive também um professor de italiano, esse agendo comigo uma aula experimental paga de 1,5h. OK. Expliquei para ele que meu objetivo era me mudar para a Itália para reconhecer minha cidadania. OK. Quando cheguei à aula, ele passou 20 minutos falando em português sobre ele mesmo e a escola e sobre métodos de ensino e 40 minutos sobre a história da língua italiana. Um desperdício enorme do meu tempo, já que eu queria aprender conteúdos do dia-a-dia para poder me mudar... Em seguida, ele partiu para uma aula já pronta que ele tinha sobre o alfabeto, mas o mais interessante de tudo é que essa aula eram tão copy-and-paste que ele sequer me deu a oportunidade de soletrar meu nome, nem uma menção sobre como os italianos usam nomes de cidades ao soletrar, nada. Ele acabou terminando 10 minutos mais cedo e usou esses minutos finais para falar um pouco mais sobre a experiência dele de intercambista na Itália. O centro da aula era ele. Essa foi uma das aulas mais expositivas que tive, com conteúdos que eu poderia facilmente ter encontrado no youtube.
O que eu aprendi: Não é justo cobrar do aluno para você se auto-apresentar e falar sobre seu método e sua empresa. Se você vai se sentir mais confortável depois de ter esse momento com o aluno, faça isso antes da aula então. Esse conteúdo, na minha opinião, deve ser tratado em uma consultoria gratuita ou pode ser facilmente disponibilizado em um email ou site. Antes de ensinar qualquer coisa ao aluno convém fazer algumas perguntas, tentar descobrir o que a pessoa precisa e, especialmente, o que ela já sabe. No meu caso, por exemplo, se ele tivesse me perguntado sobre minha formação, eu diria que me estudei Letras e, portanto, tudo o que ele me contou sobre a história da língua italiana eram coisas que eu já sabia.
Outro ponto importante é dividir as atividades de classe entre atividades de fluência e precisão. Atividades de fluência são aquelas para o aluno treinar a fala e reduzir a hesitação; Nessas, o aluno pode e deve cometer erros, e você não precisa interromper para corrigi-los. É uma oportunidade de criar autoconfiança, treinar sua mente para pensar rápido e organizar idéias para se comunicar com as pessoas na vida real. De criar coragem para falar mesmo se estiver errado. Numa conversa da vida real as pessoas não interrompem a gente a cada segundo para consertar erros mínimos. Corrigir cada pequeno erro faz a aula ficar focada no professor, não no aluno. Eu só corrijo on the spot se o erro do aluno é algo que impede ou confunde a comunicação ou em ocasiões específicas em que quero treinar a precisão.
Exigir que o aluno use uma estrutura gramatical específica em freer practice tasks
Uma das minhas múltiplas professoras de italiano fazia isso em todas as aulas e eu achava péssimo. Toda vez que ela ensinava novos tópicos gramaticais, ela propunha uma atividade de conversação livre, tipo um bate-papo informal, mas com o diferencial que ela queria criássemos frases dentro da conversa usando estruturas específicas e outras que já tínhamos abordado. Aqui está uma pequena lista das perguntas que eu mais odiava:
"Eu quero que você fale usando i verbi riflessivi"
"Crie frases usando o presente perfetto."
“Fale sobre o seu trabalho usando o superlativo assoluto”
"Mas você não usou nenhum pronomi indiretti singolari tonici!"
Para mim, o principal problema com comandos como esses é que eles se desviam muito das situações da vida real. Ninguém pensa em tempo verbal e estruturas gramaticais na hora de falar... a gente simplesmente fala. Por mais que ela quisesse que praticássemos as coisas específicas que ela havia ensinado, na minha opinião sincera, essa era a maneira menos eficaz de nos fazer entender. A aula ficava chata, na maioria das vezes tínhamos que inventar coisas e, em muitas situações, ela ficava frustrada quando falávamos sobre coisas que eram interessantes para nós se as estruturas que ela queria que usássemos não fossem incluídas.
O que aprendi com isso: em tarefas menos controladas, é muito importante conduzir os alunos a fazerem o que queremos de maneira natural. Se meus alunos não estão necessariamente usando a estrutura que eu quero quando eles têm a chance de produzir o idioma de forma independente, devo pensar em uma maneira de guiar a conversa para o que quero que eles digam sem exigir isso… É possível guiar a conversa com recursos visuais, perguntas, ou um tópico prático...
Mas o mais importante de tudo: se estou dando a meus alunos uma tarefa em que eles têm a liberdade de usar a linguagem mais livremente, preciso estar pronta para eles usarem coisas diferentes do que eu havia planejado e tentar ao máximo possível induzi-los a usar as estruturas que eu quero, sem especificar. Não se trata de usar um tópico gramatical específico. Nós, como professores, precisamos criar um contexto em que isso seja natural. Se isso não está acontecendo, exigir que o aluno monte uma frase com a estrutura tal não vai ensiná-lo como incluir essa estrutura numa conversa. É o aluno quem precisa concluir que essa é a estrutura certa e não o professor. Se isso não estiver acontecendo provavelmente existe aí um problema com a atividade como um todo.
Uso excessivo de correções on the spot
Uma das minhas professoras de italiano nunca preparava as aulas. Ela não usava um livro, não tinha um tema para a aula ou qualquer coisa do tipo. Ela se orgulhava em dizer que o foco do curso dela era na fala, o que literalmente significava que ela esperava que fôssemos conversar durante a aula toda. O problema era que ela me corrigia e fazia comentários o tempo todo. Eu achei engraçado porque quando começamos ela disse que eu falava italiano abbastanza bene (razoavelmente bem), mas a sensação que eu tinha ao final de cada aula era de que eu era péssima. Não havia uma única coisa que eu dissesse que não a levasse a me interromper. Isso significava que muitas vezes eu perdia minha linha de raciocínio e cometia ainda mais erros.
Além disso, ela sempre me enviava as correções via mensagens do Skype enquanto me corrigia, o que significava que eu de fato não tinha a oportunidade de rever o que havia dito incorretamente para tentar corrigir meus próprios erros mais tarde e muito menos de tentar corrigir a mim mesma. No nível em que eu estava, isso era crucial, pois eu era capaz de perceber formas corretas e entendê-las, mas não necessariamente de usá-las independentemente, principalmente porque português e italiano são duas línguas-irmãs. Eu sempre saía dessas aulas pensando que meu italiano era péssimo e não sabia por onde começar a aprimorá-lo, e não sabia o que eu tinha aprendido, nem o que precisava aprender...
O que aprendi: As correções on the spot nem sempre funcionam. Como professor, é importante incentivar os alunos a falar, mesmo que isso signifique que perderemos a oportunidade de corrigir alguns de seus erros. Quando você constantemente interrompe alguém, na verdade você concentra toda a atenção da classe em si mesmo e isso torna os alunos menos incentivados a conversar. É muito importante ser paciente e esperar alguns segundos para que os alunos possam pensar na resposta. Se você esclareceu isso antes, é provável que eles se lembrem. As interrupções mais eficazes são não-verbais, porque permitem uma segunda tentativa. Enviar mensagens com formas corretas para os alunos olharem é ótimo, mas eles precisam ver o que realmente estão dizendo. Assim, é importante anotar primeiro os erros e não a forma correta. Afinal, identificar o que é correto e usá-lo independentemente NÃO são a mesma coisa. Meus alunos costumam me dizer: "Eu disse isso, teacher?" "YUP". E é incrível como, depois de ver o que eles disseram, eles começam a tomar consciência disso em seu próprio discurso.
Ficar preso num conteúdo já pronto.
Uma das razões pelas quais contratamos um professor é ir além dos livros didáticos. Portanto, uma aula em que simplesmente repetimos o que está no livro e preenchemos as lacunas pode ser bastante chata. Certa vez, tive um professor de alemão que fazia exatamente isso. Não havia uma única oportunidade para eu produzir a linguagem livremente, tentar falar de mim mesma, ir além do livro. Abandonei o curso porque não via muita diferença entre ter aulas com ele e estudar sozinha.
Um dos meus professores de francês não preparava nada para a aula, e eu sabia disso porque ele sempre me perguntava em que página tínhamos parado no início de cada aula. A sensação que tenho muitas vezes é a de que antes e depois das aulas ele literalmente me apagava de memória e simplesmente retomava de onde deixamos o livro quando nos encontrávamos novamente, algo que eu deveria lembrar. O livro era o centro do curso, o livro era o curso e foi tudo o que fizemos. Uma vez, só de teste, eu dei a página errada quando ele perguntou e, de fato ele, prosseguiu normal e mecanicamente com a aula.
Minha lição: se algo não pode ser aplicado à rotina / gostos de um aluno, se não vai haver um momento em que o aluno possa comparar aquilo com a realidade dele, não vale a pena ensinar. É muito importante mostrar aos alunos como eles podem se beneficiar do que quer que você esteja ensinando. Mais que isso, é fundamental ir além do livro. É fundamental preparar nossas aulas e garantir que os alunos saibam que são importantes e trazer conteúdos para a realidade deles. O valor hora-aula do curso deve englobar também o tempo de preparação e follow-up de cada aula ministrada. Se você não dedica esse tempo ao seu aluno, está fazendo errado.
5. Fazer as exatas mesmas tarefas idênticas em todas as aulas pode ser entediante.
Um dos meus professores nos fez passar UM SEMESTRE conversando sobre nosso último fim de semana em todas as aulas. Durante UM SEMESTRE, ele fez cada um de nós contar aos outros o que havíamos feito no fim de semana anterior. Isso foi ficando tão chato depois do primeiro mês, que na verdade eu chegava atrasada de propósito já pensando em perder essa parte da aula. Às vezes eu dava o azar de chegar exatamente na hora de falar do fim de semana. Eu pensava comigo: cazzo di fine settimana scorso! Isso afetou bastante minha motivação com o curso. Em um momento do curso ela pediu um feedback à turma, eu disse que achava que seria legal modificar os temas dessa task, acrescentar algumas coisas diferentes, etc. Ela foi extremamente defensiva e pediu ao restante da turma um feedback sobre ela mesma enquanto professora, o que, claro, foge to tema.
A lição que aprendi: Muitas vezes vemos a motivação dos alunos desaparecer gradualmente, e acho que isso ocorre em parte porque eles podem não estar empenhados. Entretanto, também acho que se nós, professores, sempre fazemos exatamente as mesmas coisas, isso provavelmente tornará as aulas menos desafiadoras e divertidas. Obter feedback para as tarefas que atribuímos, e não para o quanto eles gostam de nós como professores, é uma boa maneira de garantir que os mantenhamos motivados.
E se você? Há algo que seus professores fizeram que você não gostou de jeito nenhum?!