Por que alguns alunos não conseguem aprender inglês tendo aulas online?
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Desde que comecei a trabalhar exclusivamente com aulas online, há quase um ano, venho me interessando bastante em entender a dinâmica e o perfil de quem procura um serviço assim, de forma a atender meus clientes da melhor maneira possível. Uma das coisas que gosto bastante de fazer, até mesmo para criar soluções para as dificuldades que esse tipo de aluno enfrenta e para que eu possa promover meu negócio de maneira adequada, é criar gráficos sobre minha interação com prospects e alunos.
Por que alguns alunos não conseguem aprender inglês tendo aulas online?
Os resultados seguintes me mostram um pouco da realidade do ensino e me levaram a algumas conclusões interessantes sobre o que podemos fazer para um curso online funcionar bem (ou não!);
Reação dos meus alunos quando comuniquei que migraríamos para online
Na época da mudança eu tinha 14 alunos, o que me proporcionava uma carga horária sólida de 22-25 horas semanais. Em geral, eu gosto de focar na exclusividade, então meu foco até o momento não tem sido ter centenas de alunos e oferecer algo geralzão. Algumas coisas interessantes ocorreram com a mudança:
1. os alunos que eu já tinha tiveram três reações:
- ou experimentaram aulas online e permaneceram comigo,
- ou decidiram que nem experimentariam o curso online.
- ou sumiram por um tempo e agora estão voltando.
Nenhum dos que decidiram tentar desistiu do contrato por não se adaptar. Com os demais, nada de hard feelings; indiquei uma professora extremamente competente para os que quiseram e parti para a próxima. Foi libertador para mim saber que eu não estava falhando em convencer os clientes que eu já tinha, mas que na verdade eu precisava e tinha o potencial para conseguir outros;
2. Assim que mudei para online eu perdi quase metade dos meus clientes. Sim. Até free sessions (o que eu NÃO costumo oferecer) eu ofereci, mas infelizmente alguns não gostaram da minha ideia e ponto final;
3. Os que desistiram eram quase todos alunos que eu atendia in company, e que com isso estevam acostumados com meu deslocamento até eles. Entre as razões que me deram para não me querer mais (SNIF!) estão o fato de que eles não achavam que aulas online podiam ser interativas, ou que era complicado demais para alguém de mais de 40 anos estudar no computador. Mas isso antes de tentarem.
4. Algo interessante também aconteceu: no grupo dos quitters' estavam duas alunas nos seus 20/30 anos, que pasmem: trabalhavam numa empresa de tecnologia que justamente cria videos educacionais. O motivo foi simples: "aulas online não são para mim/nós".
Isso me fez concluir que:
a. idade e afinidade co tecnologia não são necessariamente a razão para alunos não quererem estudar online (a maioria dos meus alunos tem mais de 40 anos);
b. aulas online são uma ideia inovadora e com isso é bem provável que as pessoas rejeitem a ideia sem nem conhecer, principalmente por uma falta de conhecimento dos recursos.
Motivos que levaram meus alunos à escolha de estudar online
Uma grande parte das pessoas que me contatam são indicações de ex-alunos ou colegas, o que me levou a concluir que muitas vezes as pessoas escolhem um curso com base na confiança que alguém próximo deposita no professor/escola. Esse pode ser um ótimo critério para escolher um curso, afinal a gente tende mesmo a gostar de coisas semelhantes aos nossos amigos e, logicamente, se o método de ensino funcionou para o outro, é um sinal de que pode funcionar para você também.
A grande maioria os alunos que chegaram em mim por um meio que não sejam indicações (pelas quais sou infinitamente grata) desejavam estudar online por questões de logística ou tempo. Ou seja, quem escolhe estudar online literalmente não tem tempo a perder; com tanto compromissos pessoais e profissionais, a escolha por um curso nessa modalidade muitas vezes acaba sendo a única opção viável. Quem estuda online muitas vezes, pelo menos no caso das pessoas que me contataram, não necessariamente prefere a modalidade, mas o faz por falta de tempo para se deslocar até uma escola. Com isso, muita vezes o aluno que opta por estudar online é justamente o que não tem tempo para se dedicar, e não tem a opção de estudar num curso mais tradicional, seja numa escola ou com um professor particular.
Isso me leva ao próximo gráfico:
Toda vez que eu reclamo porque perdi um aluno minha mãe diz: aluno é igual biscoito, vai um vêm oito. E foi assim que novos alunos vieram, e com menos necessidade de me preparar eu gradualmente cheguei a 32 alunos, entre fixos e crash courses, e consegui, já que não estava mais restrita à minha cidade natal, aumentar minha fee. A dinâmica tem sido assim:
Quantos contatos antes de darmos início às aulas
Eu fiquei, como dizemos em Minas, com a pulga atrás da orelha, no início. Mas afinal, por que tantos alunos fazem mais de um contato e muitas vezes até se comprometem a iniciar o curso mas depois mudam de ideia e atrasam o processo? Será que o problema é a maneira como estou divulgando meu trabalho? Como tornar esse processo mais rápido, passar mais confiança? São vários pensamentos que temos quando isso acontece.
Parte da resposta está no primeiro gráfico. Muitos alunos são pessoas que querem estudar online por questões de logística e tempo. Ou seja, são pessoas extremamente atarefadas. Dessa forma, é natural que seja difícil para o aluno se organizar para iniciar o curso. Muitas vezes, isso demanda uma alteração na rotina que, de início, pode ser um pouco difícil ou até mesmo impossível. (Ou vai dizer que você nunca pagou um mês de academia sem ir lá nem um diazinho que seja?)
Com as aulas presenciais isso também ocorre, mas em menor escala. Afinal, alunos que estudam presencialmente tendem a ter uma rotina mais fixa, com menos viagens, muitas vezes. E principalmente nos casos em que o professor se desloca até o aluno, existe toda uma comodidade (e cobrança) oriunda do fato de que o aluno pagou alguém para ir até onde ele estiver.
Outro motivo que eu identifiquei para múltiplos contatos e indecisão está no gráfico seguinte:
3. Experiências com algum cursos online
Os números não mentem: a maioria de meus alunos tem pouca ou nenhuma experiência com cursos online. Vários já fizeram algum curso antes, mas nenhum fez mais que três cursos antes. E por falta de vivência com esse tipo de ensino e falta de tempo para pesquisar, muitas vezes fica difícil decidir. Com isso, o marketing acaba falando alto a muitos. Lembra do primeiro gráfico? Indicação dá respaldo, ainda que quem esteja indicando seja um treinador de futebol que ainda não tem um nível legal de inglês.
Assim, eu acho que existe uma indecisão no aluno, por conta das inúmeras propostas de cursos que prometem inovar o ensino, descomplicar a vida e oferecem toda a flexibilidade possível. Mas eis o problema que muita gente não leva em consideração: é impossível para o professor adequar a agenda dele à realidade do aluno (a não ser que o aluno contrate a pessoa em tempo integral), porque professor também tem vida pessoal (a gente também toma cerveja e viaja para NY) e outros alunos para atender.
Com isso, muitas plataformas/escolas online acabam oferecendo a opção de o aluno agendar as aulas quando quiser, o que invariavelmente quer dizer que o curso que ele aluno terá não será personalizado. Ou seja, o aluno será alocado numa turma diferente a cada aula com desconhecidos a cada aula. E, claro, para ter aulas com o mesmo professor, você precisará contar com a sorte, principalmente se esse professor for pago apenas pelas horas de aulas em que o aluno estiver disponível. Afinal, a melhor receita para não manter um profissional num emprego é a incerteza sobre quanto e quando ele será pago para estar disponível.
Para mim, o pior problema de trocar o professor e os colegas a cada aula é que o aprendizado de línguas é algo pessoal e que demanda tempo. Muitas estruturas precisam ser abordadas e trabalhadas inúmeras vezes até o aluno conseguir usá-las independentemente, além de a relação com o outro ser essencial para criar contextos. A não ser, é claro, que o aluno tenha um dom especial e consiga automatizar conteúdos mediante uma explicação geral, o que não é o caso da maioria das pessoas. A maioria de nós precisa interagir e estar confortável com outros seres humanos para aprender.
Outro problema são cursos onde o aluno paga por um número X de aulas e pode agendar com o professor por um prazo específico quando quiser. Realisticamente, será dificílimo para este professor se dedicar ao aluno, ou oferecer a exata disponibilidade que o aluno deseja a cada semana. A longo prazo, será muito melhor para esse professor ter alunos fixos a reservar horários diferentes para o mesmo aluno a cada semana. A solução muitas vezes é a escola ter vários professores, de forma que, mais uma vez, o serviço se torna mecânico e o aprendizado perde a qualidade.
E pior: como quem estuda online tem a dificuldade com a disponibilidade, o processo de agendamento de cada aula pode se tornar um empecilho que inviabiliza o curso totalmente, já que para programar uma hora de aula muitas vezes você precisará deixar de fazer outra coisa importante, ou relaxar mesmo. Ou seja, por um lado deixar o horário do curso em aberto é um erro gravíssimo de quem quer aprender; é colocar o aprendizado do inglês em segundo plano. Por outro, é uma estratégia excelente para quem vende cursos lucrar a curto prazo. Afinal, se o aluno fica meses pagando pelas aulas e nunca consegue se agendá-las, ele não vai aprender e nem ocupar o horário, e precisará de mais aulas. Aí o aluno não agenda as aulas, ou agenda aulas com conteúdos não sequenciais e não aprende mesmo.
Outro problema somos nós mesmo, professores. Muitas vezes, o formato online só favorece a nós. São vários os colegas que usam apenas pdfs sem um programa que possibilite anotações, ou o skype sem compartilhamento de tela, ou simplesmente vídeos do youtube nas aulas. Infelizmente, em cursos assim o aluno não vai aprender tanto quando numa aula presencial. Precisamos colocar esforço, capricho e nos dedicar para aprender como lidar com a tecnologia para oferecer recursos que mitiguem a distância.
Assim, eu acredito que o problema não está no curso online em si, mas em como os interessados estão abordando essa proposta (que ainda está engatinhando) nas dificuldades que a correria da vida moderna nos impõem, no fato de ser algo novo e como tudo que é novo, causar rejeição, e, principalmente, devido ao fato de que vários desses cursos são pensados com base no lucro, e não nas necessidades educacionais do aluno e financeiras do professor. Afinal, aprender online demanda recursos tecnológicos, rotina, seriedade e um projeto de ensino que permita e encoraje a dedicação para ambas as partes.
Para mim, enquanto professora, a melhor maneira de promover meu negócio é incentivar e cobrar disciplina, tanto de mim mesma quanto do aluno, e criar soluções para as dificuldades que esse perfil de cliente encontra, mas sem sacrificar a rotina de estudos necessária para aprender. E claro, acredito que a gente precise investir tempo e recursos financeiros para oferecer algo especial e fácil de usar para nosso aluno. Minha proposta e estratégia central até o momento tem sido aprender o máximo que eu puder sobre tecnologia, e sempre apresentar ao meu aluno em potencial o que posso oferecer.
Pensando nisso, criei meu motto:
COMODIDADE QUE VOCÊ QUER. DISCIPLINA QUE VOCÊ PRECISA. INTERATIVIDADE QUE NEM IMAGINAVA
E, claro, por mais que você faça tudo direitinho, algumas pessoas não vão querer aulas online e ponto final. Mas está tudo bem; continue fazendo o seu melhor e você encontrará pessoas que querem e precisam do seu trabalho. Porque afinal, como diz minha sábia mãe: "aluno é igual biscoito; vai um, vem oito.
Seja o professor online que você gostaria de ter.