The Teacherr (Lachesis Braick)

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Será que suas aulas de inglês são/serão personalizadas de verdade?

Uma das estratégias de marketing mais usadas hoje em dia por professores particulares para conseguir alunos é o tal do INGLÊS PERSONALIZADO. São diversos os profissionais que fazem a promessa de proporcionar aulas únicas, individuais e criadas exclusivamente para um. Essa terminologia visa a chamar a atenção e fechar negócio com possíveis clientes, em geral pessoas à procura de um serviço de qualidade superior ao que os cursos livres oferecem. Entretanto, existe também uma quantidade considerável de aulas que, de fato, só são personalizadas no nome.

Seguem alguns quesitos que podem ajudar você a julgar se seu curso é/será ou não é/não será personalizado:

1. Não existe uma entrevista inicial, ou, se há, ela não reflete em nada de especial/diferente para o curso:

Para mim, que sou adepta à ideia de oferecer cursos realmente personalizados, os pedidos mais complicados de atender com qualidade são o de que eu ofereça uma aula demonstrativa avulsa, ou de começar as aulas sem conhecer o aluno. Isso porque, sem conhecer o nível, o objetivo e o perfil - sem saber um mínimo da pessoa - é praticamente impossível oferecer algo personalizado. Com isso, se a proposta de ensino do professor/escola já oferece assim, de cara, uma aula experimental (sem nem uma conversa rápida) para atrair clientes, ou que até faz a entrevista, mas não apresenta nada que reflita o seu perfil nas aulas, existe uma possibilidade alta de que esse curso seja algo já pronto, preparado para quaisquer alunos sem levar em consideração a necessidade individual. 

Eu penso que um curso realmente personalizado vai se construindo com o tempo, dentro da interação entre professor e aluno, de modo que a conversa inicial se torna algo decisivo para sabermos por onde começar. Dessa forma, a aula experimental pode ser, sim, uma ótima maneira de as pessoas se conhecerem e verem se as energias se combinam, mas ter interesse no aluno em si também é muito importante. Se desde o primeiro contato já existe uma proposta sem o cuidado de uma conversa inicial, existe uma grande possibilidade de que esse profissional já tenha todo um curso com aulas prontas, que podem vir a não ser tão personalizadas assim. Digo isso não apenas como professora, mas também como aluna: os professores que me propuseram aulas avulsas sem me conhecer um pouquinho antes me apresentaram materiais genéricos, não necessariamente voltados para mim. Ouso dizer inclusive, que algumas dessas aulas continham conteúdos que eu poderia aprender sozinha mesmo, usando o youtube. Logo, achei o curso deles redundante (sim, professores normalmente são alunos exigentes e chatos mesmo... rs). 

2. Um curso pensado na meta geral do aluno, deixando de lado a necessidade imediata:

Uma das coisas a se ter atenção para cumprir o objetivo do aluno por completo e realmente personalizar um curso é pensar numa proposta que atenda a necessidades de curto e de longo prazo. Geralmente, quando o aluno dá início ao curso, ele tem, além da vontade de ser proficiente e de um perfil (negócios, geral, viagens, exames internacionais...) , duas questões a trabalhar:

a. algum objetivo com o qual ele quer lidar no momento,

b. ou defasagens imediatas que podem ser trabalhadas de forma a motivá-lo.

Um exemplo prático de curto e longo prazo: o Market Leader, por exemplo, é um livro de Business English (inglês para negócios), ótimo para adultos que querem melhorar o inglês para a carreira. Entretanto, esse é um tema geral, que pode não atender a um objetivo imediato do aluno, como melhorar a habilidade com apresentações de resultados a clientes, ou se preparar para conferências telefônicas, ou ainda se apresentar de maneira simples e oferecer um café a um visitante estrangeiro. Assim, o objetivo de curto prazo desse aluno é conseguir milestone de lidar com as apresentações e primeiro contato; o livro pode esperar um pouco.

Outro exemplo é o curso básico: passei a lecionar Travel English para todos os meus alunos iniciantes, já que a maioria tem vontade de viajar (ainda que nem sempre imediatamente) e que essa é uma oportunidade de apresentar um pouco da cultura e de conteúdos que podem ser imediatamente utilizados. Às vezes pensamos em "inglês básico", mas isso não necessariamente quer dizer "aula de verbo to be", "presente simples" e nem "vamos seguir à risca o que está no syllabus do New English File". 

É importante não perdermos de vista que esse momento inicial do curso  é nossa chance de aumentar a autoestima do aluno com pequenos detalhes; daí, a importância da entrevista inicial e de criar metas a ser atingidas para personalizar o curso .

3. Aulas que giram em torno de uma coisa pronta:

Tipo o nosso famoso quadrinho uó do verbo to be:
REPEAT!

Se a aula tem o mesmo conteúdo que você acharia num vídeo do youtube, seu curso não é personalizado. Outro dia um colega reclamou comigo que os youtubers estão acabando com o espaço dos professores de inglês: discordo. Só está perdendo espaço quem oferece aulas demasiadamente expositivas, sem ênfase na comunicação da vida real.É bem comum que professores menos investidos na profissão e/ou menos experientes utilizem somente materiais já prontos e de maneira automatizada, como num script. Isso acontece com livros didáticos, com materiais de sites como offtoclass.com e busyteacher.com e até mesmo com artigos da net. Aulas assim geralmente têm muitas atividades de completar, um excesso de exercícios de repetição já prontos e atividades onde o aluno utiliza somente o conteúdo novo, sem incluí-lo em uma conversa natural, juntamente com outras coisas que gostaria de falar. Preparar materiais para o aluno é algo que exige criatividade, tempo, paciência e conhecimento de didática, quatro coisas que nem todo mundo tem ou está disposto a utilizar. Uma aula personalizada precisa extrapolar o conteúdo dos livros, das apresentações e dos xerox, trazendo ao aluno o desafio de usar o conteúdo aprendido junto com as outras coisas que já sabe também; o aluno precisa se ver usando aquilo na vida real.

Um exemplo de material adaptável que criei para ensinar alunos a se apresentarem e a apresentarem colegas num contexto empresarial.

Uma aula personalizável de verbo to be e com foco na comunicação:

Não existe nada de errado em usar um livro didático ou materiais de sites nas aulas. Aliás, eu mesma adoro recorrer a ideias de outros professores e de bons livros para meus cursos. Afinal, muitas editoras e colegas competentes vêm produzindo materiais maravilhosos por aí. O problema é quando a aula gira em torno de atividades já prontas e frequentemente trazidas das mesmas fontes, sem que o aluno tenha a oportunidade de praticar o uso do conteúdo ensinado de maneira independente e o mais natural o possível, e sem que esse conteúdo tenha proximidade com a realidade do aluno. O material trazido precisa ser o esqueleto da aula, o apoio, mas não 100% do que é apresentado; é importante trazer sempre o conteúdo do curso para o contexto daquela pessoa. 

Para ensinar modal verbs (may/should/must/need to...), por exemplo, criei uma aula sobre etiqueta de paquera no Tinder:

Veja um exemplo de um material que criei para tornar um texto do livro mais interativo e visual:

4. Aulas de conversação que se resumem a um texto impresso ou conversas estilo butiquim

O extremo do problema anterior são aulas que não têm um propósito específico, ou qualquer material preparado, ou um fim. É comum hoje em dia se falar em aula de conversação, um termo traduzido do inglês para denotar que a aula tem foco em interação oral. Parece simples, né? Tudo uma questão de trazer um texto ou escolher um assunto e bater um papo. Não. Uma aula preparada de conversação é aquela em que o professor não apenas discuta um texto ou fale sobre um tópico com o aluno, mas que realmente trabalhe habilidades comunicativas.Outra coisa que também é péssima é quando a aula gira em torno da leitura em voz alta e discussão de um texto, num formato assim de conversa de bar, sem que na oportunidade o aluno tenha contato com o vocabulário e estruturas importantes que ele ainda não sabe, mas precisa. Existem várias redes sociais onde em dia que colocam pessoas do mundo todo em contato, e discutir assuntos interessantes com estrangeiros pode ser mais proveitoso - e barato - que ter aulas assim.

Eu, particularmente, gosto de dividir aulas de conversação em 3 partes:

1. aluno fala o assunto que quiser, espontaneamente, enquanto tomo nota dos erros sem a pessoa ver, já que não compartilho a tela

2. enquanto conversamos reúno fotos que remetam ao vocabulário novo

3. fazemos o feedback dos erros, com homework autocorreção. 

5. Aluno relapso que nem lembra o dia da aula de inglês

E, claro, last but not least, o que mais inviabiliza por completo um curso personalizado é a postura do próprio aluno. Muita gente pensa que a falta de personalização dos cursos é culpa exclusiva do professor, mas nem sempre a banda toca assim. Fica muito difícil desenvolver atividades especiais para alunos que não se comprometem com uma meta e não se firmam num propósito. Muitas vezes é impossível para o professor trabalhar o progresso de um aluno que não sabe o que quer, que não tem foco e nem faz as atividades, ou sequer traz dúvidas para serem trabalhadas. Assim, se o aluno quer um curso personalizado, ele também tem que contribuir. Afinal, não há criatividade que resista a um aluno descompromissado. Para quem não está tendo tempo para as aulas, quem não sabe o que quer, quem vive precisando desmarcar, o melhor talvez seja postergar o projeto para se organizar melhor e se dar a oportunidade de aproveitar ao máximo o trabalho de um professor dedicado e atento às necessidades individuais.

Bons estudos!

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